sábado, 6 de dezembro de 2008

O TRABALHO DOCENTE
As idéias do autor vêm de encontro direto à realidade de nosso trabalho, achei a leitura muito confortante; tendo em vista que muitos autores falam da prática docente, parecendo desconhece-la, falam de nossa realidade, como se todos nossos alunos fossem iguais, já o autor expõe o contrário quando afirma:: “Por outro lado, contrariamente aos objetos seriais do industrial, que são homogêneos, os alunos são heterogêneos. Eles não possuem as mesmas capacidades pessoais nem as possibilidades sociais. As suas possibilidades de ação variam, a capacidade de aprenderem também, assim como as possibilidades de se envolverem numa tarefa, entre outras coisas. Ao se massificar, o ensino passou a se deparar cada vez mais com alunos heterogêneos em termos de origem social, cultural, étnica e econômica, sem falar das importantes disparidades cognitivas e afetivas entre os alunos. Essa questão levanta o complexo problema da eqüidade dos professores em relação aos grupos de alunos que lhes são confiados.” (pg.129).
Inclusive, o autor faz uma crítica, a algumas pesquisas pedagógicas,dizendo que: “...essas pesquisas se baseiam com demasiada freqüência em abstrações, sem levar em consideração coisas tão simples, mas tão fundamentais, quanto o tempo de trabalho, o número de alunos, a matéria a ser dada e sua natureza, os recursos disponíveis, os condicionantes presentes, as relações com os pares e professores especialistas, os saberes dos agentes, o controle da administração escolar, etc.” (pg.115).
Muitas das afirmações do autor são muito pertinentes, quando fala da forma que o professor trabalha, do seu envolvimento integral com o trabalho, de que utilizamos nossa personalidade ao trabalharmos, quando fala do pouco ou nenhum poder que o professor tem de constatar se realmente seus alunos estão obtendo aprendizados...
Eis um dos motivos da minha paixão por alfabetizar, é um momento em que podemos verificar verdadeiramente o aprendizado dos alunos; o retorno que os alunos nos dão é real, e perceptível,o aluno “dá retorno” ao nosso trabalho...
Nosso quotidiano é movido por atitudes, pensamentos e ações em função do aprendizado de nossos alunos, quantas vezes, já ouvi a frase: “De que jeito posso ensinar isso aos meus alunos”; essa afirmação tem por trás de si o que autor disse: “...o conteúdo ensinado em sala de aula nunca é transmitido tal e qual: ele é “interatuado”, transformado, ou seja, encenado para um público, adaptado, selecionado em função da compreensão do grupo de alunos e dos indivíduos que o compõe...”( pg.120).
O autor menciona as dificuldades de ensinar, que se deve levar em conta as diferenças existentes de diversos fatores: alunos, escola, conteúdos, materiais disponíveis,...Traz ao seu discurso um outro elemento, que é o envolvimento emocional do professor com seu trabalho, e com seus alunos, que muitas vezes não é mencionado, muitas vezes nosso trabalho é medido pelo que nossos alunos aprendem em forma de conteúdo, o professor bom ainda é aquele que “vence” todos os conteúdos. Muitas vezes os professores que se envolvem emocionalmente com os alunos, que conhecem seus alunos e sua realidade, dão conta de algo maior, de um envolvimento emocional, um suporte emocional que o aluno não encontra em outro lugar. Como afirma o autor: Esse fardo é realmente assumido e vivido por professore que se confrontam, as vezes diariamente, com as crianças que sofrem de diferentes problemas, por exemplo de carência de atenção e de amor. Nesse sentido, como dizia Tom (1984), o ensino é realmente um trabalho moral.(pgs.143, 144). O que é uma grande vantagem para o professor, como também afirma o autor: “O professor que é capaz de se impor a partir daquilo que é como pessoa que os alunos respeitam, e até apreciam ou amam, já venceu a mais temível e dolorosa experiência de seu ofício, pois é aceito pelos alunos e pode, a partir de então, avançar com a colaboração deles.”(pg. 140)
O autor fala também, de um fator muito importante que influencia diretamente nossas salas de aula: “...Embora ensinem a grupos, os professores não podem deixar de levar em conta as diferenças individuais, pois são os indivíduos que aprendem, e não os grupos.” (pg. 129). Ou seja, quando fizemos nossos planejamentos, mesmo atuando com um grupo de alunos, é impossível não levar em conta que cada indivíduo tem uma forma diferente de aprender, e por isso adequamos, modificando os discursos, os exemplos, as atividades, as explicações, para conseguirmos atingir um maior número de alunos, e os que não atingimos, retomamos em outra oportunidade, de outra forma, o fazer docente é um reinventar maneiras de ensinar a mesma coisa...
Outro fator que influencia diretamente o nosso trabalho é fato do não envolvimento dos alunos com o aprendizado; eles vêm à escola de forma forçada como diz o autor: “E é porque eles são forçados a ir à escola que essa dimensão de atividades ou de liberdades dos alunos se torna importante: a escola não é escolhida livremente, ela é imposta, e isso, inevitavelmente, suscita resistências importantes em certos alunos. Os professores devem desenvolver nos alunos essa “sujeição voluntária” da qual já falava Etienne de La Boétie (1976), ou seja, devem inculcar-lhes a convicção de ir à escola por vontade própria e de estar “para seu próprio bem”: a obrigação relativa à escola deve transformar-se em interesse pela escola: pouco importa que esse interesse seja obtido e mantido por meios extrínsecos (notas) e ou intrínsecos (motivação e produção de sentido).”( pgs. 130,131).
Ainda, quero ressaltar a fala do autor que diz que o fazer docente é um fazer social: “Dado que os professores trabalham com os seres humanos, a sua relação com o objeto de trabalho é fundamentalmente construída de relações sociais. Em grande parte, o trabalho pedagógico dos professores consiste precisamente em gerir relações sociais com os seus alunos.” (pg.132).
Foram tantas e extremamente interessantes as afirmações do autor , que encontrei uma certa dificuldade de selecionar e trazer as idéias que mais me chamaram a atenção. De fato, Maurice Tardif trouxe nesse capítulo afirmações que me comoveram, uma vez que falou da realidade da nossa sala de aula, sem desvalorizar nenhum elemento que a compõem, isto é confortante, pois muitas pessoas falam da educação e da pedagogia, sem terem contato direto com ela, e acabam formando teorias distantes e desassociadas da realidade.

Bibliografia:
- TARDIF, Maurice. O trabalho docente, a pedagogia e o ensino. Cap. 3. p. 112 – 149. In Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2003.
MINHAS ESCOLAS

Atualmente trabalho em duas escolas, uma da rede municipal e outra da rede estadual de ensino.
Trabalho em uma escola com o 2º ano dos nove anos (município) e na outra com a 2ª série (estado).
As duas escolas encontram-se na zona urbana do município. Uma na periferia, e oura na área central.
Uma das escolas, a da rede municipal oferece Ensino Fundamental durante o dia e Educação de Jovens e Adultos do Ensino Fundamental, à noite. A da rede estadual é uma escola de segundo grau, onde atuo com o currículo, que é um curso de aplicação do Magistério, estamos vinculados a ele e ele a nós. É bem interessante a proposta; as alunas do Magistério, em algumas vezes atuam com nossos alunos, observam nossas aulas, fazem reforço, hora do conto, entre outros projetos. Nessa escola também tínhamos a Educação Infantil, mas será extinta a partir de 2009.
Nas duas escolas temos alunos com dificuldades especiais, na da rede estadual estuda uma cadeirante, mas ela freqüenta o segundo grau, e também alguns alunos surdos estudam na escola. Na escola municipal, temos alunos de inclusão em várias turmas.

DIRETRIZES CURRÍCULARES

Conforme Profª. Anísia de Figueiredo –MG, “as Diretrizes Nacionais para o Ensino Fundamental no Brasil, após a sansão da LDBN, ou seja, da Lei nº 9394/96, são instituídas através da Resolução nº 2 de 7 de abril de 1998, pela Câmara de Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional de Educação (CNE). O art. 2º da referida Resolução define o que são Diretrizes Curriculares Nacionais, a saber: “Diretrizes Curriculares Nacionais são o conjunto de definições doutrinárias sobre princípios, fundamentos e procedimento da educação básica expressas pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, que orientarão as escolas brasileiras dos sistemas de ensino na organização, articulação, desenvolvimento e avaliação de suas propostas pedagógicas”.
Segundo Maria Beatriz Gomes da Silva: “As diretrizes procuram preservar a unidade da educação nacional, sem interferir no pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas dos sistemas de ensino e de suas escolas, conforme previsto na Constituição Federal de 1988 - CF/88 (Inciso III do Art. 206) e na LDBEN (Inciso III do Art. 3°)”.

Entendo, então que são normas estabelecidas pelos três sistemas de governo; federal, estadual e municipal, que tem como objetivo unificar a educação, deixando a cargo do estado, município e escolas regulamentar as diversidades culturais e pedagógicas.
Encontramos no PME, da prefeitura municipal de Sapiranga, 2004, a seguinte afirmação: “A oferta de ensino fundamental a toda população do município, inclusive àqueles que não tiveram acesso a ele, na idade própria, é mais do que um dever Constitucional e um desafio pontuado nas prioridades do Plano Municipal de Educação, é um compromisso que garante o ingresso, reingresso, a permanência na escola e o sucesso do aluno, dando a possibilidade do domínio da leitura, da escrita e do cálculo a todo cidadão sapiranguense.”
Na escola onde atuo da rede municipal, nota-se um empenho muito grande em manter o aluno na escola, em recuperar aprendizados dos alunos, em avaliar o aluno integralmente, com situações em que os alunos são passados pelo conselho de classe, quando ficam com alguns pontos pendentes em alguma disciplina.
O currículo também realiza conselho de classe, levando para o conselho casos em que temos dúvidas, em relação a algum aluno, os colegas das turmas paralelas, ou das turmas seguintes auxiliam a refletir sobre a promoção ao não desse aluno. Percebesse uma preocupação, um compromisso com o aluno e com o aprendizado dele.
Nesta escola existe também um projeto de recuperação, que é feito em turno oposto ao que os alunos freqüentam, onde a professora que atua com os alunos desenvolve atividades distintas das oferecidas em sala de aula, para que o aluno tenha, além das oportunidades já oferecidas, novas formas de aprendizado.
Quando existem situações que as turmas vão mal, seja por indisciplina, ou por desinteresse, são convocadas reuniões com os pais e os professores, juntamente com os pais tentam elaborar combinações que auxiliem a reverter à situação.
Percebesse pelas iniciativas que mencionei, entre outras praticadas, que a escola esforça-se para cumprir a diretriz do Plano Municipal de Educação, não apenas moralmente, mas pela ética que está inserida na mesma.

Bibliografia:
-
http://www.gper.com.br/gper_news/anexos/news13_1.doc;
- Plano Municipal de Educação – PM Sapiranga (2004 à 2014);
- SILVA, Maria Beatriz Gomes, Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil e para o Ensino Fundamental: Articulações e Interfaces com Educação Especial, Educação Indígena, Educação Básica no Campo e Educação de Jovens e Adultos.